Atividades Físicas na Gestação
Autora: Mayara Rodrigues Pais de Oliveira / Edição: Paulo Ortiz
Há algum tempo a ideia de que mesmo gestantes saudáveis deveriam manter repouso absoluto vem se desmistificando e é cada vez mais comum ver gestantes praticando atividades físicas em todas as fases do período gestacional. Com acompanhamento médico e orientação corretas, é possível desfrutar diversos benefícios durante a gestação, no parto e também no puerpério. Vamos falar sabre alguns a seguir.
Benefícios da Atividade Física no Período Gestacional e no Pós-Parto
Diversos benefícios podem ser observados com a prática regular de exercício físico na gestação, com ganhos extensivos ao feto, tais como:
Melhora do controle metabólico: manutenção da glicose e redução das gorduras plasmáticas, promovendo a redução do risco de diabetes gestacional;
Controle da hipertensão gestacional: essa é uma das complicações mais prevalentes no ciclo gravídico-puerperal, que tem incidência em 6% a 30% das gestantes. A doença hipertensiva é responsável pela pré-eclâmpsia e eclampsia sendo responsável por altas taxas de morbimortalidade materna;
Auxílio na diminuição de dores: Principalmente a lombalgia. A lombalgia é um sintoma muito comum em gestantes, acomete aproximadamente 50% das mulheres e ocorre principalmente no último trimestre da gestação. Sua causa está relacionada a vários fatores, tais como mudanças biomecânicas, fisiológicas, vasculares e psicológicas. A lombalgia gestacional pode ser identificada como dor lombar, dor pélvica posterior ou a junção das duas.
Manutenção do peso; Menor tempo de hospitalização; Redução do risco de parto prematuro e de complicações obstétricas;
Menor incidência de cesárea e dores no parto: A atividade física regular fortalece a musculatura pélvica. Bungum e colaboradores, estudando mulheres nulíparas (que nunca deram à luz), observaram que gestantes sedentárias apresentaram risco 4,5 vezes maior de nascimentos por cesárea do que as gestantes ativas fisicamente. Além disso, o aumento de estrogênio contribui para o relaxamento muscular facilitando o parto, suavizando as cartilagens e elevando o fluído sinovial com resultados no alargamento das juntas, facilitando a passagem do feto;
Melhora do condicionamento físico, contribuindo para recuperação pós-parto
Redução dos níveis de estresse, ansiedade e do risco de depressão pós-parto: neste período a gestante enfrente diversas exigências, vivenciando um período de reorganização corporal, bioquímica, hormonal, social e familiar, isso pode causar algumas alterações emocionais. A ansiedade é um fator que pode estar presente em todo o período da gravidez, deixando a gestante insatisfeita, insegura, incerta e com receio da experiência desconhecida. A mudança ocorre não apenas no organismo feminino, mas também no comportamento humano, alterando seu psiquismo e os aspectos sociais.
Diminuição da sensação de isolamento social e melhora a autoestima;
Redução do estresse cardiovascular, o que se reflete, especialmente, em frequências cardíacas mais baixas, maior volume sanguíneo em circulação, maior capacidade de oxigenação, menor pressão arterial, prevenção de trombose e varizes.
Atividades Recomendadas para Gestantes
Antes de iniciar um programa de exercícios físicos a gestante deverá apresentar liberação médica. Dentre as atividades físicas recomendadas estão as práticas rotineiras da gestante antes da gravidez, desde que se observe a intensidade recomendada.
A segurança durante a prática é primordial e estudos têm demonstrado que uma variedade de exercícios que vão desde baixa intensidade, como o yoga, até de alta intensidade como aulas aeróbias e até mesmo a corrida podem ser seguros para a mãe e para o feto.
Durante o primeiro trimestre da gravidez é recomendado para a gestante realizar exercícios de respiração, relaxamento, fortalecimento da região pélvica e corretores posturais. Esses exercícios podem ser realizados durante toda a gravidez. No primeiro trimestre é importante focar em enfatizar o exercício de pouca carga, melhora da consciência corporal e mobilidade da coluna, estimular a regularidade das sessões (2 ou 3 vezes por semana) e priorizar exercícios leves e globais, bem distribuídos durante toda a sessão.
No segundo trimestre é preciso se atentar a possíveis compensações de aumento da lordose lombar durante o exercício, evitar alongamentos excessivos ou forçados, enfatizar exercícios para ativação da musculatura profunda do abdômen e do assoalho pélvico
Já nos meses finais da gestação é importante aumentar a carga nos exercícios para os membros superiores, para preparação dos cuidados com o bebê e priorizar exercícios para mobilização da pelve.
De acordo com o Colégio American, muitas das mudanças fisiológicas e morfológicas persistem durante até seis semanas após o parto. Assim, é importante que a rotina de exercícios seja gradual e individualizada. Destaca-se a importância de exercícios físicos localizados para a região do assoalho pélvico no período pós-parto, principalmente para reduzir o risco de incontinência urinária futura.
Devido à sua grande variedade de exercícios e nas mais diversas intensidades, aliado com a sua característica de aulas personalizadas, o Pilates é uma atividade física altamente recomendada para gestantes.
Atividades aeróbicas, que visam a melhora das condições cardiovasculares, controle dos níveis de glicose, hipertensão, gordura, colesterol e manutenção do peso corporal, devem proporcionar segurança, com menor impacto e com baixa/média intensidade. Nesse caso são indicadas atividades aquáticas, como a hidroginástica, caminhada em percurso nivelado e bicicleta ergométrica.
Existem alguns sintomas que são sinal de alerta para a prática segura de atividade física. Se durante ou após o exercício, alguns desses sintomas ocorrer é necessário interrupção imediata e encaminhamento para avaliação médica:
· Sangramento vaginal
· Dispnéia (respiração desconfortável ou desagradável)
· Tontura
· Dor de cabeça
· Dor torácica
· Fraqueza muscular
· Dor ou inchaço de panturrilhas
· Diminuição da movimentação fetal
· Perda de líquido amniótico
Existem dois objetivos na execução de um programa de treinamento na gravidez, são eles: preparar para o parto e manter a saúde por meio da forma física.
É preciso levar em consideração fatores como: a intensidade do exercício, a duração da seção de treinamento, a frequência semanal, modo de execução dos exercícios, tipos de exercícios que serão executados, a individualidade biológica da gestante, tempo de gestação e o prazer na execução das atividades. É preciso um cuidado extra nos três primeiros meses de gestação, considerado o período mais crítico, pois é uma fase em que a placenta ainda está em processo de fixação no endométrio uterino e um programa de exercícios inadequado pode atrapalhar sua fixação, principalmente exercícios que produzam alto impacto como corridas e ginásticas ou atividades com elevada intensidade.
Sendo assim, visando a segurança e a saúde da gestante e do feto, torna-se imprescindível o acompanhamento e trabalho interdisciplinar da equipe de saúde, incluindo o médico especialista e o profissional de Educação Física, na elaboração dos programas de condicionamento físico para gestantes.
Referências:
BALDO, Letícia Oliveira et al. Gestação e exercício físico: recomendações, cuidados e prescrição. Itinerarius Reflectionis, v. 16, n. 3, p. 01-23, 2020.
BATISTA, Daniele Costa et al. Atividade física e gestação: saúde da gestante não atleta e crescimento fetal. Revista brasileira de saúde materno infantil, v. 3, p. 151-158, 2003.
FONSECA, Cristiane C.; ROCHA, Lillian A. Gestação e atividade física: manutenção do programa de exercícios durante a gravidez. Rev. bras. ciênc. mov, p. 111-121, 2012.
KROETZ, Daniele Cecatto. Benefícios do método pilates nas alterações musculoesqueléticas decorrentes do período gestacional. Revista Visão Universitária, v. 3, n. 1, 2015.
SOARES, Denise dos Santos Costa et al. Atividade física na gestação: uma revisão integrativa. Revista Perspectiva: Ciência e Saúde, v. 2, n. 2, 2017.
Sobre a autora:
Mayara Rodrigues Pais de Oliveira
Educadora Física
CREF: 153361-G/SP